Curiosamente, o tema da imortalidade apareceu esta semana, para mim, por duas vezes, em duas pesquisas bem distintas que estava fazendo sobre assuntos de tecnologia: viagens espaciais e a crescente digitalização da sociedade. “As viagens espaciais permitirão que vivamos para sempre”, comentou o brilhante escritor de ficção científica Ray Bradbury, em entrevista realizada em 1974. Segundo Bradbury, somos parte do universo e, ao nos lançarmos em viagens interplanetárias, fugindo de uma eventual catástrofe na Terra que extinga a espécie humana, estamos eternizando a vida que existe em cada um de nós.
“Temos que pensar no impensável – que é o que a religião e a ciência fazem –, às perguntas básicas: como chegamos aqui? De onde viemos? Para onde vamos? Não temos as respostas agora e provavelmente nunca chegaremos à elas. Mas é essa busca que permitirá que vivamos 3 bilhões de anos. Não somente na Terra, mas principalmente nas estrelas. É disto que se tratam as viagens espaciais”.
Já na minha pesquisa sobre a digitalização da sociedade, encontrei um texto e um vídeo do físico e professor Michio Kaku, com o qual tive o prazer de estar junto em uma das reuniões sobre a concepção do Museu do Amanhã, em 2011, no Rio de Janeiro. “Em breve poderemos falar com Winston Churchill. Isso porque todos os seus discursos, maneirismos, cartas, memórias e videos terão sido digitalizados e processados. Seremos capazes, também, de falar com nossos antepassados. Tataranetos conversarão com tataravôs, pois todos seremos imortais”.
Interessante revisitar o mito grego de Títono: ele era o príncipe de Troia, que recebeu o maior presente que um humano poderia desejar: a vida eterna. Isso ocorreu porque a inquieta deusa Eos, apaixonada pelo belíssimo jovem, pediu a Zeus para imortalizá-lo. Mas Eos esqueceu que, ao contrário das divindades, os homens envelhecem. Ela teve o desejo atendido, mas foi obrigada a ver a aparência e a saúde de seu amado se deteriorarem eternamente.
Ao ler e ver esses conteúdos me veio uma questão, que também surgiu no programa de TV do qual Bradbury participou: você desejaria ser imortal? Concordo muito com a resposta do escritor: “Se eu pudesse ter boa saúde, não me tornar senil, eu gostaria. Mas acho que seria importante de alguma maneira, limpar parte do nosso conhecimento prévio a cada 40 anos, purificar o cérebro e a alma de vivências e informações desnecessárias”.
Sim, a ideia da imortalidade, com um reboot mental já programado a uma determinada frequência e um mínimo de saúde física – ao contrário do pobre Títono – é uma concepção atraente para mim. E para você?